Acordar no escuro e jantar com a luz do sol já são suficientes para gerar muita reclamação sobre o horário de verão. É a fórmula mágica que resulta em dor de cabeça, mau humor, falta de apetite, irritabilidade e cansaço. Independentemente de gostar ou não, o fato é que adiantar os relógios em uma hora tem impacto no organismo. “O horário de verão altera não só a rotina de processos do cotidiano, mas também o funcionamento orgânico do corpo. Vivemos habitualmente em um ciclo circadiano de sono/vigília que se guia, em última instância, pela exposição à luz solar. Isso envolve a produção e o metabolismo cíclico de diversos hormônios e substâncias endógenas, como a melatonina, o cortisol, entre outros”. A explicação é do clínico geral e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica Regional Minas Gerais, Paulo Mascarenhas. O especialista explica que é intuitivo para o organismo sentir sono no período noturno, quando não se tem a presença de luz solar. “Dessa forma, entende-se que durante a madrugada, pela situação semelhante, há uma tendência natural de a pessoa sentir mais sono e menos disposição”, afirma.
Você gosta do horário de verão?
No entanto, o médico lembra que, apesar de ser uma questão subjetiva, após uma semana no novo horário, a maioria das pessoas já se encontra bem adaptada. “É claro que há sempre aqueles que passam todo o período de horário de verão reclamando e outros que no segundo dia já se sentem ótimos. Fatores individuais, como prática de exercícios, alimentação, regime de trabalho, nível de estresse, entre vários outros, influenciam diretamente na maior facilidade ou não do indivíduo em se adaptar ao novo horário”, observa.
Fisioterapeuta da Duoflex e especialista em Medicina do Sono, Carolina Carmona diz que o matutino extremo – aquele que acorda muito cedo – talvez precise de 15 dias para se acostumar. Mas concorda com o clínico geral Paulo Mascarenhas que uma semana é o suficiente para ajustar rotina e sono. “Quem demora mais, sugiro procurar a ajuda de um especialista”, pontua.
Após os primeiros dias de adaptação, necessários para recuperar o padrão de sono próximo do habitual, o organismo volta a funcionar como antes e o cansaço e desânimo iniciais, segundo Paulo, dão lugar à disposição para aproveitar o tempo a mais da luz do sol.
Dia mais longo?
O dia não fica mais longo por que o tempo de luz natural é maior. Mas essa sensação é muito comum. O que acontece é que as pessoas atrasam o horário habitual de dormir. “Tendemos a achar que durante o horário de verão os dias se tornam mais longos, mas o que realmente ocorre é que acabamos tornando as últimas horas do dia mais produtivas, exatamente pela presença de luz solar. Não devemos esquecer, entretanto, que às 22h já estará escuro, e que, quem habitualmente dorme nesse horário, deverá continuar dormindo mesmo no horário novo. O que afeta o organismo é acordar, apesar de no mesmo horário, muitas vezes sem a luz solar – e essa ausência, sim, a princípio, exerce certa influência negativa na adaptação do corpo. Tal fato é bem observado em indivíduos que trabalham em turno e que acabam se vendo forçados a adaptar seu organismo a ausência de um ciclo luz/escuro adequado”, explica Paulo Mascarenhas.
As crianças
Crianças de até 4 anos, que ainda não têm compromisso escolar, são um bom exemplo de como é possível se adaptar naturalmente à nova realidade. “Um ser humano inocente, sem viés de confusão, mostra como o organismo se adapta gradativamente à alteração de horário”, explica o clínico geral.
Viagens internacionais com mudança de fuso horário também mostram a capacidade rápida de o organismo se adaptar. “São exemplos clássicos, porém mais breves, do que ocorre durante o horário de verão”, cita Paulo Mascarenhas. O especialista observa, entretanto, como é significativamente mais fácil ao organismo se adaptar a um fuso horário mais à Oeste do que à Leste. “Usualmente as pessoas se adaptam muito mais rapidamente ao viajar aos EUA do que à Europa”, explica.
Dicas para minimizar os efeitos
Paulo Mascarenhas diz que todos devem buscar manter um padrão de sono adequado com ao menos oito horas de sono efetivo. “Não podemos esquecer que, apesar de o dia parecer mais longo, o relógio marca as mesmas horas. Não se pode cair na tentação de dormir mais tarde que o de costume. Caso contrário, a percepção de acordar mais cedo no dia seguinte deixará a pessoa mais cansada”, aponta. O médico também recomenda hábitos alimentares saudáveis, com refeições leves no período noturno, para favorecer um sono relaxante.
A atividade física também é importante aliada. O especialista recomenda como prioridade as de cunho aeróbico. “O hábito favorece a liberação de endorfinas, hormônios que dão sensação de bem-estar”, enumera.
A especialista em sono Carolina Carmona ressalta que a atividade física precisa ser realizada três horas antes do horário de dormir. “É o tempo que o corpo precisa para relaxar”, explica. A refeição também precisa ser feita com duas horas de antecedência. Alimentos estimulantes – como café, chocolate – devem ser evitados, assim como comidas pesadas. “Mantenha o quarto escuro, evite televisão, celular e internet”, aconselha. Até a leitura deve ser avaliada com atenção. Para Carolina, livros que prendem a atenção devem ser evitados. “Leia depois do almoço porque espanta o sono da tarde e só vá para cama para dormir”, avisa.
Ela também chama a atenção para a escolha do travesseiro. “Cada pessoa tem um tipo ideal. A dica é observar um ângulo de 90 graus entre a cabeça e o colchão. Uma pessoa pequena, por exemplo, não deve usar travesseiro alto. Dê preferência pela postura de lado na hora de dormir e o uso de um travesseiro entre as pernas ajuda a relaxar a musculatura da lombar”, detalha. Sobre o colchão, é importante verificar a altura e a densidade correta para cada indivíduo ou casal.
Até 16 de fevereiro
O horário de verão vigora até 16 de fevereiro de 2014 em dez estados brasileiros – Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul – e no Distrito Federal. Os demais estados das regiões Norte e Nordeste do Brasil não adotam o sistema, devido à proximidade da Linha do Equador.
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