Os distúrbios respiratórios do sono (DRS) em pessoas com acromegalia — síndrome causada em adultos pelo aumento da secreção do hormônio do crescimento — são mais comuns em pacientes mais velhos, obesos e com hipertensão arterial sistêmica. “Os distúrbios respiratórios do sono estão associados de forma independente com a idade, maior pressão arterial diastólica e menor distensibilidade da artéria carótida”, relata a fisioterapeuta Aline Cecília Silva Amaro, que pesquisou o assunto em seu doutorado na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).
“A acromegalia está associada com o surgimento de complicações cardiovasculares, pulmonares, metabólicas e neoplasias que cursam com aumento da mortalidade, redução da expectativa de vida e considerável impacto sobre a qualidade de vida dos pacientes”, explica a fisioterapeuta. As complicações respiratórias, por sua vez, são resultantes das alterações anatômicas causadas pela síndrome nos ossos e tecidos moles do crânio e da face, mucosa respiratória, cartilagens, volumes pulmonares, geometria da caixa torácica, além da própria atividade dos músculos respiratórios.
O objetivo da pesquisa desenvolvida por Aline era verificar se existe relação entre a presença de DRS e o início de doença cardiovascular nos pacientes com acromegalia. Para isso, foram realizados dois estudos com pacientes do ambulatório de Neuroendocrinologia da Disciplina de Endocrinologia e Metabologia do Hospital das Clínicas (HC) da FMUSP. O estudo foi conduzido no Laboratório do Sono da Divisão de Pneumologia do Instituto do Coração (InCor).
Resultados
Um dos experimentos testou a associação de forma independente dos DRS aos marcadores de pior prognóstico cardiovascular e metabólico. O outro avaliou o impacto do tratamento da apneia com uso de pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP) sobre os marcadores cardiovasculares dos pacientes. “O CPAP gera pressão positiva nas vias aéreas em níveis capazes de manter a região da faringe aberta mesmo durante o sono, evitando desta forma as interrupções respiratórias”, explica Aline. Os pacientes deviam dormir todas as noites, durante três meses, com o CPAP acoplado por intermédio de uma máscara.
O trabalho não identificou efeitos do tratamento dos distúrbios do sono sobre os indicadores cardiovasculares. Todavia, foi possível notar melhoras subjetivas a partir do uso do CPAP. “O CPAP virtualmente elimina os eventos respiratórios, diminui a sonolência, melhora a função cognitiva, humor, melhora a qualidade de vida e pode diminuir risco de doenças cardiovasculares”, conta a pesquisadora.
De acordo com a fisioterapeuta, os resultados apontam para a hipótese de que as alterações cardiovasculares ocorrem em função da própria acromegalia, com menor influência dos distúrbios do sono. “Outra hipótese é que 3 meses com uso de CPAP não seja o suficiente para observamos melhoras nos parâmetros cardiovasculares, necessitando de um tempo maior de estudo”, continua.
No estudo sobre o uso do CPAP, para efeitos de comparação, também foi usado por três meses adesivo nasal. Segundo Aline, os pacientes relataram bons resultados com o produto, mesmo sendo um placebo. “Quando perguntávamos aos pacientes que estavam usando o adesivo nasal, estes relatavam que dormiam bem, o ronco diminuía, de manhã estavam bem descansados, mas o que observamos é que o adesivo não diminuiu a apneia”, conta.
“Os distúrbios respiratórios do sono são comuns na população com acromegalia e apesar disto ainda é subdiagnosticada”, diz a fisioterapeuta. Aline chama a atenção para a importância de uma atuação multiprofissional no tratamento dos distúrbios do sono na população com acromegalia. “Além do mais os distúrbios respiratórios do sono interferem negativamente na qualidade do sono, qualidade de vida e também estão associados com as doenças cardiovasculares como por exemplo disfunção endotelial”, completa.
Fonte: Agência USP de Notícias
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