Os brasileiros estão levando os efeitos negativos do trabalho para casa, segundo um levantamento inédito da empresa de espaços de trabalho Regus. Insônia e doenças relacionadas ao estresse são alguns dos principais problemas apontados por gestores do país no estudo.

Os profissionais do Brasil estão entre os que mais perdem o sono, segundo dados de mais de 20 mil pessoas, de 95 países. Por aqui, 44% dizem dormir mal devido a preocupações no trabalho, número bastante menor do que a média global de 34%, e o quarto maior do mundo, atrás da Coreia do Sul (55%), dos Emirados Árabes Unidos (52%) e da França (47%). Para o diretor regional da Regus para São Paulo, Otávio Cavalcanti, a insônia é consequência do estresse gerado pela preocupação com a economia, a rotina corrida das grandes cidades e o acúmulo de funções.
“A desaceleração da economia afeta o dia a dia no trabalho e a empresa quer que o funcionário faça mais com menos”, diz. Em um contexto de enxugamento de despesas, não é por acaso que mais de um terço dos profissionais brasileiros entrevistados (36%) se sentem menos confiantes na manutenção dos seus empregos.

No Brasil, 46% dos profissionais dizem que esse aumento no nível de estresse já foi notado por familiares e amigos. O maior nível de preocupações e correria também parece afetar a saúde dos profissionais brasileiros com mais frequência do que os de outros países. A grande maioria dos entrevistados (81%) percebe hoje uma maior ocorrência de doenças relacionadas ao estresse, ante 61% no mundo todo.

O médico psiquiatra Rubens Luis Folchini Fernandes, do núcleo de medicina psicossomática e psiquiatria do Hospital Israelita Albert Einstein, vê o estresse decorrente do trabalho como uma queixa cada vez mais frequente entre pacientes. Para ele, há um certo nível de estresse que é considerado uma resposta saudável à adaptação da pessoa a um ambiente novo e ao desejo de desenvolver habilidades. “Quando começa a comprometer a vida pessoal do profissional, ele deixa de fazer atividades de lazer. Essa preocupação transborda para o ambiente familiar e acaba com os momentos de descanso”, diz.

Para Cavalcanti, a busca por mais equilíbrio é um desafio que depende tanto da empresa quanto do profissional: a primeira deve cuidar de seus quadros e o segundo precisa se policiar. “Quanto mais o colaborador tem tempo para si, mais produtivo ele fica”, diz. Uma das maiores dificuldades para isso é que ainda há a percepção de que se dedicar após o fim do expediente oficial é mostrar eficiência. “Quando recebo um e-mail de alguém à meia noite, não acho que a pessoa está vestindo a camisa da empresa, mas que ela tem algum problema para organizar o tempo dela”, ressalta o diretor.

Passar dos limites pode deixar o profissional mais perto da síndrome do “burnout”, situação de exaustão emocional que leva a um quadro depressivo, de isolamento, privação de sono e perda de apetite – ou mesmo o contrário, com a pessoa tentando se “automedicar” com o excesso de comida ou de bebidas alcoólicas. “Isso gera uma maior predisposição a problemas cardiovasculares e deficiência imunológica, o que coloca a pessoa em um estado de vulnerabilidade”, explica Fernandes.

Para o médico, é preciso que o indivíduo, que muitas vezes já tem essa tendência à ansiedade de desempenho, construa um espaço saudável no trabalho. Além disso, as organizações precisam refletir junto aos colaboradores sobre o que é exigido para preservar ao máximo o bem-estar do profissional.

Segundo o estudo, 66% dos brasileiros percebem mais faltas no trabalho relacionadas a esses problemas – a média global é de 52%. Uma das alternativas para as companhias seria oferecer mais opções de flexibilidade para os profissionais. Para 74% dos entrevistados, adotar práticas de horário e local flexíveis ajuda a diminuir o estresse e facilita o equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional – número maior do que o registrado no ano passado, de 66%. Cavalcanti afirma que a possibilidade de trabalhar de casa ou fazer horários alternativos ajuda a evitar problemas geradores de estresse como o trânsito e a falta de mobilidade urbana. “Equilíbrio é a palavra-chave pra ser um bom profissional.”

Fonte: Valor Econômico